A obsessão não é de agora, já estava presente nas peças anteriores que procuram empenhadamente o humano no corpo, hoje tendencialmente coberto de excessos, onde riqueza e velocidade surgem como sinónimos que ameaçam a construção de identidades com consciência de cidadania. É uma parte da estética e da ética do desaparecimento que domina a contemporaneidade.
O corpo é o primeiro manifesto que afirma a impossibilidade de fazer do gesto teatral um acto neutro, inscrito num mundo que herdou as maiores atrocidades infligidas ao homem pelo homem, e que não aprendeu com os seus actos, caminhando para um abismo onde novamente o valor da vida humana está posto em causa e novos holocaustos se antevêem no horizonte de um futuro possível. Estas questões eram visitadas já na trilogia que John Romão dedicou a Pasolini – “Teorema” (2014), “Pocilga” (2015) e “Pasolini is me” (2015).
Em “Que difícil é ser um deus” o ‘desaparecimento’ é referente ao corpo, enquanto camuflagem ou dissimulação. O apurar de técnicas de desaparecimento associadas ao desenvolvimento do complexo industrial-militar-científico domina o quotidiano. O que hoje ocorre é o desaparecimento do lugar e do indivíduo ao mesmo tempo. O desaparecimento do indivíduo dentro do seu próprio corpo? Ou a dissimulação do corpo por via do desaparecimento do indivíduo?
APRESENTAÇÕES
CAPC / JARDIM DA SEREIA (COIMBRA, PT)
21 FEVEREIRO 2017
PAVILHÃO BRANCO / GALERIAS MUNICIPAIS EGEAC, no contexto do BOCA - BIENNIAL OF CONTEMPORARY ARTS (LISBOA, PT)
26 ABRIL 2017
CENTRO CULTURAL RECOLETA (BUENOS AIRES, AR)
14 – 15 DEZEMBRO 2017
Direcção: John Romão
Co-criação: John Romão & Romeu Runa
Performer: Romeu Runa
Colaboração sonora: Tiago Cerqueira
Operação de drones: André Gomes e Luís Graciano
Produção: Colectivo84
Assistência de produção: Vanda Noronha
Apoios: Fundação Calouste Gulbenkian, Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, Galerias Municipais / EGEAC
Projecto financiado pelo Ministério da Cultura - Direcção Geral das Artes